Trechos da obra "O Exu Desvendado", de Míriam Prestes:
Muitos Exus tiveram uma vida recente na Terra.
Foram pessoas comuns, com problemas comuns.
Coincidentemente todos morreram de forma trágica, presos aos vícios e situações problemáticas prendendo-os na densidade mais baixa que há na espiritualidade: o nosso plano físico.
Os Exus de reencarnação mais "antiga" viveram em meados do século 18, como muitas ciganas.
Outros, fizeram parte das cortes européias, brasileiras ou alta sociedade, como contam as Pombagiras Rainhas.
Outros, na Europa ou Brasil no início do século, como alguns Exus que se apresentam de capa e cartola. Mas a grande maioria, verdadeiramente, pertenceram às primeiras décadas do século 20, muitos deles vivendo na área de boemia como as centenas de Zé Pelintras, Marias Padilhas, Quitérias, Damas da Noite dentre tantos.
Gente que viveu na boemia, amantes do sexo, do prazer, dos vícios, colhendo a dor decorrente de uma vida longe dos verdadeiros sentimentos, piorada na vida além da morte...Gente abandonada, injustiçada, sem o apoio da sociedade...Gente que passou a vida inteira rolando sem um amigo, sem uma família, sem apoio de ninguém...Foram perseguidos, humilhados, cujas "casas de família" batiam suas portas em seus rostos como se fossem transmissores de alguma doença contagiosa...
Rolavam sem fé em Deus, sem fé em nada... apenas fé no
dinheiro... no poder. Nas aparências do mundo físico que é apenas uma ilusão passageira...Gente que foi nobre, teve o poder temporal, utilizando-o para roubar ainda mais dos pobres, humilhar pessoas, vivendo nas vitrines do mundo como pessoas "respeitáveis" à maioria...
Todos ludibriaram a vida, achando que nada encontrariam ao morrer...Esses espíritos, que já vinham de outras vidas sofrendo os males de sua própria imprevidência, na sua própria descrença em valores reais e em Deus, ao morrerem encontraram-se consigo mesmo.
Redescobriram novos valores. Queriam mudar. Mas ainda estavam presos à densidade física desse plano, pelas sensações aos quais eram ainda simpáticos...
Na verdade, quem hoje transita no grupo que intitulou-se "Exu", teve uma vida dissoluta, longe da espiritualidade superior.
Desperto, porém em sua nova realidade, agora quer se redimir. Reconstruir, auxiliando justamente aqueles que cometem os erros que, um dia, os tornaram gente sofredora.
Exu é um espírito em evolução. Ainda guarda afinidade às paixões terrenas.
Ao amor, ao ódio, à vingança. Não perambulam pelo Umbral em tarefas porque são espíritos luminares. Trabalham ali, porque precisam. Precisam evoluir!
Os quiumbas, espíritos trevosos, passam-se por exus, mas facilmente os reconhecemos, por serem falastrões, arrogantes, pretensiosos, beberrões, falando palavrão, sem respeito à homens e mulheres presentes, pedichões, interesseiros... e mentirosos.
Um quiumba disfarçado de Exu não trabalha por uma flor, uma garrafa de bebida, um pequeno agrado. Quer oferendas significativas, sacrifícios nas encruzilhadas com freqüência.
Quanto mais sangue, melhor... verdadeiro vampiro do astral, sorve a energia do sangue e do desprendimento ocorrido no estertor
da morte das vítimas, com avidez. O sacrifício animal é uma das fontes mais ricas em energias revitalizantes para os espíritos mais materializados. Esses "Exus" parecem estar sempre morrendo de fome. Nada os satisfaz.
Por que Exu não gosta de luz acesa, de incorporar/trabalhar à luz do dia, na claridade?
Durante o dia, o Sol produz a ionização de toda a atmosfera.
O mesmo acontece com o gás preso dentro das lâmpadas.
Através de uma carga elétrica, tanto a atmosfera quanto o gás ficam luminescentes, nessa reação em cadeia. Quanto mais ionizado (luminoso) for um ambiente, mais eletrificado será, o que é capaz de provocar sérios ferimentos no perispírito, nos corpos astralinos, de entidades mais materializadas, como Exu.
Tanto quanto têm dificuldade em manusear as energias mais densas (em trabalhos diversos), sentem profundo mal-estar. Uns queixam-se de "dor".
Em alguns casos, essas energias serão dissolvidas ao contato da luz, em outras palavras, "desmanchadas". Por isso recomenda-se que se enterrem certos "trabalhos", colocando-os dentro das tronqueiras.
Seu horário mais freqüente é após a meia-noite, quando a atmosfera já perdeu completamente sua ionização, sua eletrificação. É nesse horário que "Exu fica mais forte". Traduzindo-se, pode manipular energias com amplo poder.
Exus não apreciam crianças na assistência. Essas atraem espíritos de elevadíssima condição espiritual para si e seus fluidos são tão
sublimes que "atrapalham" sua vibração, mais pesada. Mas se lá
estiverem, não lhes darão "passe".
Exu não embala crianças nos braços, pelo motivo acima apresentado.
Exu jamais é conivente com vícios, prostituição, traições conjugais,
roubo, uso de violência contra outro ser humano. Têm um grau de
tolerância maior que os Caboclos e Pretos-Velhos a tais práticas por
compreenderem e terem piedade de nós, mas até certo ponto.
Exu de Umbanda jamais rege cabeças. Ninguém pode ser "filho(a)" de Exu. Cabeça de médium em qualquer culto afro-brasileiro
pertence apenas a uma única força: a de seu Orixá.