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25 de fev. de 2014

POMBAGIRA, MULHER DE VERMELHO

                                           

No subúrbio do Rio de Janeiro, em um centro de umbanda, está sendo realizada uma Gira, ritual de incorporação de espíritos para a prática de caridade. Eis que surge uma mulher, vestida com saia vermelha, enfeitada com jóias, segurando uma taça de champagne e uma cigarrilha.
Uma aura de sexo e perigo irradia dela.
Quem for corajoso o suficiente para encarar o seu olhar, saberá imediatamente se pode ou não se aproximar dela. Quem o fizer, esteja preparado para respostas diretas e descompromissadas às suas perguntas.
Peça-lhe ajuda, e esteja pronto para recompensá-la exatamente como o prometido, ou enfrentar as consequências.


Ela não é mulher para ser tratada com leviandade. 
Ela é Pombagira.

Pombagira não chegou ao Brasil através do mar em navios negreiros como fizeram os deuses africanos que povoam o Candomblé e a Umbanda, nem é um dos espíritos das tribos indígenas, ou um dos demônios de grimórios medievais, ou um espírito guia do Espiritismo de Allan Kardec, embora as religiões mágico-brasileiras bebam de todas essas fontes.
Pombagira é exclusiva do Brasil, uma entidade que cresceu em solo nativo, em novos centros urbanos no início do século 20, das profundas necessidades das mulheres que se encontravam em perturbadoramente novas configurações econômicas e emocionais.


Pombagira surgiu com vestido vermelho, sobrancelha arqueada, um sorriso diabólico- e um canivete escondido em seus sapatos de salto alto.

A origem de seu nome tem raízes africanas. Segundo o autor Nicholaj de Mattos Frisvold, "Bongbongira" é o nome de um espírito congolês, e pode ser uma contração das palavras "mpungo" e "Nzila", que significa "espírito da estrada".


Pode haver vestígios desse espírito congolês em Pombagira, mas a Pombagira que vemos hoje é uma nova manifestação, adequada às condições culturais dos séculos 20 e 21 da América.


Pombagira surgiu nos primeiros anos do século 20, no Rio de Janeiro.

Sua contraparte africana mais próxima é provavelmente Oxum, a deusa iorubana do amor sensual, cujo culto já estava bem estabelecido no Brasil. Mas Oxum, tão sensual como é, não chegou a satisfazer as necessidades da mulher moderna em uma cultura industrial/ urbana, que, pela primeira vez, tinha a oportunidade de ser independente.

A mulher moderna não mais precisava contar com um homem para a sua sobrevivência e a de seus filhos. Enquanto ela tivesse um trabalho, ela poderia escolher seus amantes, e casamento já não era a única opção. Ela estava no controle de sua própria sexualidade e segurança financeira.

Como muitos deuses e espíritos, Pombagira remonta a uma pessoa real:
María de Padilla (1334-1361), amante de D. Pedro I de Castela, conhecido como "Pedro, o Cruel".


Já em 1640, o Santo Ofício em Lisboa identificou uma entidade conhecida como Maria Padilha, a quem se refere como "Mãe Feiticeira".


Gaetano Donizetti, em 1841, compôs uma ópera baseada na relação de Maria Padilha com D. Pedro.

Os rituais para Pombagira tem lugar onde cruzem-se três caminhos, onde a única escolha é ir para a direita ou esquerda, não há a opção de prosseguir na mesma estrada.


Esta é outra razão pela qual Pombagira deve ser abordada com o mais profundo respeito.
Ela não lhe dá a opção de continuar no mesmo caminho. 
Ela obriga você a escolher- por isso você deve estar preparado para fazer uma escolha quando pedir por sua ajuda.


Se quiser ajuda e conselhos dela, é melhor segui-los, ou isso será um beco sem saída. 

Os umbandistas mais antigos advertem que não é bom trabalhar em demasia com a pombagira. Tão sedutora e poderosa como é, a obsessão espiritual é uma possibilidade real.
Segundo eles, as mulheres que trabalham frequentemente com a vibração da pombagira ficam mais inclinadas à prostituição ou vida sexual intensa e promíscua. Os homens que o fazem tornam-se afeminados ou perdem o controle sobre seus próprios impulsos sexuais.
Aborde essa entidade com respeito, como faria com qualquer mulher forte e independente.