Na Roma Antiga, o mau-olhado era percebido como algo habitual integrado em seu dia a dia. O mau-olhado é um tipo de maldição que causa dano somente pelo ato de olhar, mesmo que involuntariamente, sem a necessidade da intermediação das divindades, mesmo sendo uma manifestação sobrenatural. Todos os tipos de pessoas podiam fazê-lo sem serem profissionais da necromancia. Durante muitos anos o mal olhado foi considerado como parte da magia. É compreensível porque compartilha com ela sua índole sobrenatural, porém, não tem rituais próprios nem requer de intervenção divina ou de especialistas. Na Roma Antiga há poucas referências da associação entre magia e mal olhado.
De acordo com alguns escritos, poderia ser uma qualidade hereditária (famílias effascinantium). Segundo Empédocles, o mau-olhado consistia em eflúvios ou irradiações elétricas e átomos transmitidos ao olhar para alguém com inveja. Assim como todo mundo podia invejar, todo mundo
podia resultar invejado. Os indivíduos mais sensíveis a este tipo de malefício eram os recém nascidos, as mães que acabam de dar a luz, as crianças e as pessoas com beleza ou êxito, independentemente do status social. Por outro lado, as pessoas que sofriam de deficiências, desde cegueira até deformidades, estrangeiros ou desfavorecidos não costumavam ser vítimas do oculus malignus (olho maligno) porque ninguém os invejava.
Aqueles que poderiam ser vítimas dessa maldição procuravam distrair o olhar do feiticeiro por meio de gestos ou objetos aos quais atribuíam um efeito apotropaico. Esses objetos eram muito variados, dependendo do proprietário e do local onde eram colocados para serem eficazes. Os mais utilizados foram os mosaicos, os tintinábulos, lâmpadas e amuletos, entre outros.
Não podemos esquecer um dos aspectos mais curiosos usados, na época romana, como proteção contra o mau-olhado: a sexualidade. Isso foi expresso através de gestos profálicos como a figa ou o
digitum impudicus. Houve também muitas representações do ato coital nas lucernas (lâmpadas a óleo) e tintinábulos (enfeite pendurado no telhado do qual pendem alguns sinos piramidais que emitem um som metálico para afastar o mal das casas e lojas ou atrair a boa sorte) e as representações
fálicas visíveis em mosaicos, pinturas murais, relevos arquitetônicos (em blocos de pontes, aquedutos ou muros, para proteção coletiva), esculturas (representando Baco ou Príapo) e até mesmo em cerâmica.
Um dos objetos mais estudados por sua abundância e transcendência são os já mencionados
amuletos, costumeiramente joias, sobretudo anéis e pingentes, que tem diferentes representações que se adaptam a sua função e ao seu portador. As crianças, especialmente os meninos, eram os mais suscetíveis ao mal olhado, pelo que, desde seu nascimento, se lhes protegia com pingentes como a
bulla (uma espécie de relicário). Esta podia ser de ouro (somente disponível para filhos de senadores ou cavaleiros), bronze, osso ou couro (comum entre os mais humildes), e sua forma mais habitual era a de umas placas metálicas unidas por uma corrente ou cordel. Estas lâminas convexas serviam como caixinha para ervas, pedras ou conjuros escritos, que protegiam aos menores. Quando atingiam a maturidade se desprendiam deles, convertendo-os em oferenda para Hércules ou os deuses lares, ou os deuses masculinos ou femininos. Depois disso, os substituíam por um novo que se adaptasse mais a suas novas necessidades. As mulheres passavam a exibir lúnulas, pingentes de lua crescente, ou amuletos fálicos. Os homens optavam por anéis esculpidos com imagens monstruosas ou de divindades, embora também pudessem usar pingentes.
Os amuletos fálicos ("fascinum"), que visavam atrair fertilidade e louvar a natureza criadora, eram um dos remédios mais usados e eficazes contra o mau-olhado porque, sendo um objeto tão extravagante, o feiticeiro desviava o olhar, evitando assim, se essa foi a intenção, que nos cause mau-olhado ou inveja.
Feitos de vidro, ouro, nácar, âmbar ou bronze (o mais habitual), por suas dimensões e referências nos textos antigos, acredita-se que eram comuns entre as crianças pequenas e que, assim como ocorria com a bulla, deixavam de usá-los ao entrar na idade adulta (aos 17 anos), embora também pudessem ser usados como ornamentos femininos (especificamente aqueles esculpidos em anéis).
Os amuletos fálicos podem classificar-se em pingentes, os mais comuns, e não pingentes. Os pingentes eram pensados para ser pendurados ao colo; consistia de um aro de metal contendo dependuradas representações de pênis, figas, olhos, touros e outros animais - pelo qual era passada uma corrente ou tira de couro.
Saquinho branco, 1 fava divina, 1 figa
de arruda, 1 figa de guiné, oração do anjo da guarda ou a seguinte oração contra mal olhado:
Oração contra mau olhado.
"Leva o que me trouxeste,
Deus me abençoa com sua Santíssima Cruz,
Deus me defende do mal olhado
e de todos os males que quiserem me fazer,
pelo Pai, o Filho e o Espírito.
Não te chamei, não te busquei,
vieste porque quiseste,
não te quero e te desprezo,
sai de mim, deixa-me em paz.
Assim como Satanás não conseguiu
tentar a Nosso Senhor Jesus Cristo,
assim também tu
não conseguirás dominar-me.
Afasta-te de mim
e vai para onde vieste
e para quem te mandou.
Não és meu e não te quero,
não posso sofrer teus maléficos efeitos.
Sai de mim porque não poderás fazer-me mal,
porque estou com Deus,
sou intangível a teus malefícios,
porque Deus Todo Poderoso me defende.
Amém".